Monday, October 10, 2016

NO CINEMA: The Magnificent Seven (Sete Homens e Um Destino) (2016)

Nota: 9 / 10

Um dia, indo ao cinema, eu vi o pôster desta nova refilmagem. A minha pronta resposta mental foi: "essa não! Hollywood vai refilmar Os Sete Samurais de novo?" Então, eu disse a mim mesmo que não estava interessado em assistir. Como vocês já devem ter reparado, pelo menos quem acessa o blog faz tempo, eu não sou fã de refilmagens, procuro ignorá-las sempre que possível. A única refilmagem que tenho registrada aqui é esta, e só havia visto este filme do link porque não sabia que se tratava de uma refilmagem, não reparei na hora. Nada de novo, é uma porcaria.

Então decidi que não veria Os Sete Samurais genérico outra vez. Aí veio a fome... a tentação... Denzel Washington... Ethan Hawke... Chris Pratt... o diretor de Training Day!... DENZEL FUCKIN' WASHINGTON!! Droga, Hollywood! Droga!! Fisgado como uma sardinha! Fui assistir. Sorte a minha!

A razão pela qual eu não sigo remakes modernos, é porque Hollywood não consegue se desvincular de sua formulinha pronta, o que faz com que reimaginações modernas quase sempre saiam muito abaixo do esperado, ou, no pior dos casos, sofríveis mesmo.

Já existiram, no passado, remakes que foram até mesmo superiores ao filme original, um caso bem famoso é Scarface, que saiu originalmente em 1932, como um filme panfletário sobre a atual situação das guerras de gangues americanas que assolaram os EUA nesta época da Prohibition, e acabou se tornando um clássico dos filme de gângsteres, e depois veio a versão de 1983, com Al Pacino, dirigida por Brian De Palma, que desbancou esta versão de 1932 e ganhou status de filme cult. Então sim, devido ao esmero de antigamente, há remakes bons. Não é o caso de hoje, então eu os evito. E, de mais a mais, ficou meio chato rever uma mesma coisa que você já viu no passado inúmeras vezes, e piorada.

De qualquer forma, voltemos ao filme. Eu disse que as refilmagens atuais quase sempre saem muito abaixo do esperado. E, graças a Deus, esta re-refilmagem está na categoria dos "quase", porque ficou realmente muito bacana!

O filme original de Kurosawa
Para começar, um pouco de história; serei breve. Diretor japonês Akira Kurosawa e o ator japonês Toshirô Mifune fizeram, em 1954, o filme 七人の侍 (Os Sete Samurais), que contava a história de sete guerreiros samurais que acodem um vilarejo de plantações de arroz, no japão feudal, que estava sendo atacado por bandidos. O filme foi um enorme sucesso internacional, e acabou gerando uma refilmagem americana, chamada The Magnificent Seven, em 1960, estrelando grandes astros, como Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson, Eli Wallach, entre outros. A trama era a mesma, mas os bandidos eram mexicanos, o cenário era o velho oeste, e ao invés de samurais, obviamente tínhamos cowboys portando armas de fogo, ao invés de espadas. Também foi considerado um sucesso.
A refilmagem dos anos 60

Em 1998 saiu uma série de duas temporadas, readaptando o texto de Kurosawa, baseando-se no remake americano, estrelando astros como Michael Biehn (o Kyle Reese de Terminator), Ron Perlman (o Hellboy), entre outros. Este remake não ficou tão popular.

Sendo assim, chegamos a essa nova refilmagem do roteiro de Kurosawa, também tendo como base o remake americano dos anos 60, em sua essência. É até engraçado de se pensar que se trata de uma reinterpretação baseada em uma reinterpretação, eu não consigo deixar de pensar na ideia do simulacro do simulacro. Mas não é o que acontece aqui, a verdade é que esta nova versão é até mais profunda e bem estruturada do que a versão dos anos 60, dirigida por John Sturges.

A trama é a mesma coisa. Um vilarejo, desta vez chamado Rose Creek, é assaltado por um sujeito chamado Bogue (Peter Sarsgaard) e seus asseclas. No início do filme, eu achei as atuações meio forçadas. Os moradores do vilarejo não tinham aquele sotaque carregado de rancheiro do velho oeste, e o vilão parecia meio caricato, mas depois, quando o elenco principal foi se mostrando, a coisa mudou da água para o vinho, muito embora, eu ache ainda a atuação de Eli Wallach, na versão de 60, mais convincente e superior como vilão.

Estabelecido isso, temos, novamente, sete cowboys com habilidades... bem... magníficas, é claro, que estarão a serviço do pobre povo de Rose Creek, para fazerem buracos na bandidagem. O primeiro deles é Sam Chisolm (Denzel Washington, ótimo, como sempre), líder nato, e excelente atirador; depois temos Josh Faraday (Chris Pratt, de Guardians of the Galaxy), também ótimo personagem, e atirador habilidoso, além de carismático e, obviamente colocado lá estrategicamente para derreter as moçoilas.

Os outros, são Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke), outro de meus favoritos do bando, o atirador de facas Billy Rocks (Byung-hun Lee), o religioso barbudão Jack Horne (Vincent D'Onofrio), que achei muito carismático e oportuno, e que eu via como um tipo de Pequeno John, se ele estivesse no bando de Robin Hood.

Para completar o bando, o mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo) e o índio comanche Red Harvest (Martin Sensmeier). Com estes sete bravos e corajosos lutadores, a caçada se inicia e o vilarejo se prepara para enfrentar os valentões.

Como podemos ver, são personagens totalmente diferentes de qualquer outra versão que já existiu do texto de Kurosawa. Isso já é um bom sinal, pois dá mais autenticidade para esta nova produção, deixando de parecer apenas com uma refilmagem e tentado ficar de pé como algo independente. Por esta razão, um dos méritos desta nova versão fica para a criação de novos e interessantes tipos para popular nosso imaginário.

O texto, no entanto, se mantém fiel aos eventos que ocorrem desde o filme de Kurosawa. Novamente vemos os lutadores se reunirem, criarem laços por uma causa em comum, novamente vemos uma grande batalha acontecer, e novamente presenciamos muitos dos paladinos sucumbirem à morte no final. Não seria uma nova versão do filme de Kurosawa se não fosse assim. Porém, a qualidade empregada aqui nesta nova versão supera bastante outras reinterpretações, e se me permitem ser ousado, essa qualidade acaba gerando, talvez, uma nova produção clássica do gênero faroeste.

A versão de 60 é boa, vale a pena ser conferida, mas ela não te faz criar laços com os personagens principais como aqui. Nesta nova versão, cada vez que você testemunha um personagem que você gostou muito morrer, te dá um vazio, uma tristeza, porque este filme tomou tempo suficiente para desenvolver estes personagens e fazer com que você se importasse com eles, fazendo com que, na hora que um deles morresse, a morte seria bem sentida. Isso era uma característica bastante atrelada ao própro Kurosawa em seu filme. Eu mesmo não acreditei na hora que vi o primeiro do bando morrer. Suores masculinos quase desceram de meus olhos... enfim, foi bem triste. Eu não sentia esta mesma empatia quando assistia a versão de 60, apenas via personagens morrerem, e pronto, acabou.

Outra coisa que me saltou aos olhos e me agradou bastante, foram as batalhas. Pode comparar em qualquer versão existente, mesmo no texto original de Kurosawa, você não vê uma batalha tão épica e majestosa quanto esta versão de 2016! Mesmo as batalhas de espadas com os samurais do filme de 54 não são tão emocionantes quanto o tiroteio grandioso que vemos aqui. Fazia muito tempo que eu nao via um bang-bang tão épico e tão bacana, então palmas para o excelente trabalho de coreografia e segunda unidade que foi realizado!

Os momentos de tensão e drama do filme também estão acertadíssimos, culpa da ótima fotografia do filme. A trilha sonora é muito boa e a direção, mais uma vez segura e acertada de Antoine Fuqua, diretor de Training Day e The Equalizer, dois outros ótimos filmes que ele realizou com Denzel Washington, funcionou a favor da produção e gerou, como eu falei antes, mais um ótimo filme de faroeste que tem grandes chances de virar um clássico do gênero.

Por fim, quero chamar a atenção para um detalhe muito interessante que um grande amigo e mestre meu me chamou a atenção: há uma certa sutileza, no final da produção, que evoca a origem daquilo que conhecemos como America, ou, se quiser, os Estados Unidos. Eu não vou contar o final, nem revelar quem morre e quem vive, mas digamos apenas que os sobreviventes desta batalha tem muito a ver com evocar o espírito original que primeiramente constituiu a noção que temos hoje, de Estados Unidos. Preste bastante atenção neste detalhe. Cada uma dessas peças é fundamental para que o diretor Fuqua traga aos nossos olhos o verdadeiro sentido de povo americano, os fundadores do país a que pertencem. Isto é um detalhe interessante e que nenhuma outra versão havia trabalhado antes.

Por estas razões, eu considero esta, uma refilmagem não somente brilhante, oportuna e criativa, como também essencial para o momento em que vivemos na história. necessária em todos os sentidos, até porque os próprios Estados Unidos estão, mais uma vez, em vias de reafirmar os valores aos quais defendem. Eu recomendo com força esta nova produção de faroeste, não deixe de assistí-la nos cinemas! Apesar de eu não ter muita fé nas refilmagens mais atuais, esta é uma a qual eu posso tranquilamente abrir uma exceção; quase deixei de conferí-la e agora estou muito contente que fui conferir e mais contente ainda que ela superou minhas expectativas. Conhecendo a obra original de Kurosawa, ou não, ou mesmo o filme de 60, este é um filme que você não pode perder.

The Magnificent Seven (2016)
Título em português BR: Sete Homens e Um Destino

Direção: Antoine Fuqua
Produção: Roger Birnbaum, Todd Black, Antoine Fuqua
Roteiro: Richard Wenk, Nic Pizzolatto (baseado no filme japonês original de 1954 dirigido por Akira Kurosawa e na refilmagem de 1960 dirigida por John Sturges)
Trilha sonora: Simon Franglen, James Horner

Estrelando: Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke, Vincent D'Onofrio, Byung-hun Lee, Manuel Garcia-Rulfo, Martin Sensmeier, Haley Bennett, Peter Sarsgaard, Luke Grimes, Matt Bomer

Trailer:

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